Como prevenir o aparecimento e piora da osteoartrose?
A osteoartrose é a doença articular mais comum em todo o mundo, pois a maioria das pessoas com mais de 65 anos de idade e 80% daquelas com mais de 75 anos tem alguma evidência da doença. Como o próprio nome diz, artrose significa o desgaste da cartilagem. A cartilagem é um tecido branco e liso que recobre as pontas dos ossos que se articulam e daí o nome de articulação.
Quando a cartilagem deixa de ser lisa, macia e uniforme inicia-se o processo da artrose o qual pode ser devido a inúmeros fatores e sentimos ao exame físico a crepitação da junta semelhante à presença de areia dentro da articulação afetada.
O que é a osteoartrose?
Dentre todas as patologias que acometem os indivíduos à partir da 4ª década da vida, sem dúvidas, é a osteoartrose a mais comum delas, estimando-se que ocorra em até 90 % da população adulta . É ela tão antiga como a própria história da Humanidade, acometendo indistintamente todos os vertebrados. Estudos realizados em fósseis de dinossauros demonstraram que esta alteração articular já encontrava-se presente na era pré histórica.
A osteoartrite, também chamada de artrose, processo degradativo articular, processo degenerativo articular etc., resulta de um processo anormal entre a destruição cartilaginosa e a reparação da mesma. Entende-se por cartilagem articular, um tipo especial de tecido que reveste a extremidade de dois ossos justapostos (unidos) que possuem algum grau de movimentação entre eles.
São exemplos de articulações os joelhos, os tornozelos, os dedos das mãos, os dos pés, o quadril, as vértebras da coluna, os ombros, os cotovelos, os punhos, a mandíbula etc.. Em todas estas articulações está presente o tecido cartilaginoso.
A função básica da cartilagem articular é a de diminuir o atrito entre duas superfícies ósseas quando estas executam qualquer tipo de movimento, funcionando como mecanismo de absorção de choque quando submetido à forças de pressões (como no caso do quadril, joelho, tornozelo e pé), ou de tração, como no caso dos membros superiores.
Para que este movimento de atrito entre dois ossos seja diminuído, outras estruturas também fazem parte da articulação, desempenhando papéis específicos como no caso do líquido sinovial, que lubrifica as articulações e, dos ligamentos, que ajudam a manter unidas e estáveis as articulações.
Quais os tipos?
Muito mais por um ponto de vista médico, a osteoartrose é dividida em dois grandes grupos: artrose primária e artrose secundária. A osteoartrose Primária está normalmente relacionada ao processo de envelhecimento dos tecidos da articulação e se manifesta normalmente a partir dos 40 anos. A cartilagem articular vai perdendo progressivamente a sua elasticidade e capacidade de absorção de cargas e se desgasta.
Esse desgaste tende a ser mais comum nos pontos de maior pressão. Também fazem parte desse grupo os indivíduos que já possuem uma herança genética, que faz com que a doença se desenvolva independentemente de fatores externos.
Na secundária ocorre um envelhecimento prematuro da cartilagem, que pode ser decorrente de doenças anteriores (doença articular na infância, artrite séptica, poliartrite reumatoide, gota, etc), traumatismo nas superfícies articulares (entorses, fraturas, luxações) ou condições sistêmicas como obesidade, diabetes ou problemas hormonais. Essas formas secundárias tendem a ser mais graves que as formas primárias.
Fatores de risco:
Existem alguns fatores que aumentam as chances de uma pessoa ter osteoartrite:
- Excesso de peso: A obesidade faz com que as articulações tenham de suportar mais peso do que estão preparadas e isso a força a trabalhar demais causando um desgaste mais rápido
Deformação dos ossos que envolvidos nas articulações, causadas por fatores genéticos.
Provavelmente por conta de seus hormônios ou composição física, as mulheres são mais atingidas pela osteoartrite do que os homens
- Envelhecimento: as articulações também envelhecem.
Profissões e atividades físicas que exigem movimentos repetitivos, como no caso dos pedreiros, pintores e atletas, podem aumentar as chances de a doença aparecer.
Sintomas da osteoartrose:
A dor é multifatorial e esta intimamente relacionada com alterações da cartilagem articular, tumefação do osso subcondral imediatamente abaixo da cartilagem, tendões, ligamentos, cápsula articular, músculos, etc. Sais de cálcio (cristais) citocinas pro-inflamatórias também participam do complexo fisiopatológico da dor.
Por sorte todos estes elementos têm um denominador comum à inflamação. A erosão da cartilagem articular, de certa forma também, contudo, de conduta terapêutica um tanto diferente.
A sintomatologia prevê além da dor alguns outros sinais nem sempre presentes, porem algo pertinentes. Por exemplo, crepitação audível e palpável, sobretudo nas articulações periféricas, nesta ordem joelhos, ombros, cotovelos, e tornozelos. As outras dificilmente são palpáveis. Sobre ela, os doentes às vezes se referem ao rangido, que não guarda estreita relação com a dor, ou seja, range sem dor e vice-versa.
Outras vezes se referem a estalido, quase sempre não patológico e resultante da separação brusca entre as cartilagens justapostas, ou até mesmo quando se excede na amplitude máxima permitida pela articulação.
É importante assinalar o calor local, nas articulações periféricas, e muito excepcionalmente o rubor. Quando estes sinais ocorrem juntamente com a crepitação é prudente pensar também em outras enfermidades, às dominantemente inflamatórias e dentre elas, a artrite reumatoide.
Diagnóstico:
O diagnóstico da osteoartrose é essencialmente baseado na história clínica do doente, nos sintomas e na observação articular e na avaliação radiográfica das articulações. Ou seja, o diagnóstico tem por base alterações radiográficas típicas em doentes com queixas de dor articular, geralmente mecânica, rigidez e, quase sempre, um grau maior ou menor de limitação da mobilidade e da função da articulação.
A ecografia pode ajudar o diagnóstico diferencial e a orientação terapêutica, mas na maioria das vezes não são necessários outros meios de diagnóstico. A osteoartrite, só por si, não provoca alterações nas análises laboratoriais.
A cartilagem parece ser a primeira estrutura da articulação a ser atingida no decurso da artrose, mas todos os outros elementos da articulação acabam por ser atingidos. A membrana sinovial, na tentativa de eliminar os restos de cartilagem degradada que ficam na cavidade articular, inflama e produz mais líquido sinovial (derrame articular ou derrame sinovial), que se manifesta como um inchaço na articulação.
O osso subcondral da superfície articular vai reagir espessando-se e proliferando para as extremidades. Forma-se assim o osteofito, a que vulgarmente se chama “bico de papagaio”, que pode ser visto nas radiografias.
Principais causas:
As articulações normalmente têm um nível tão pequeno de fricção que não se desgastam. Apenas quando excessivamente utilizadas ou danificadas ocorrem lesões à cartilagem hialina das articulações móveis (diartroses). Uma regeneração ineficiente pode agravar o prejuízo no movimento. Defeitos genéticos, congênitos ou patológicos também podem ser uma das causas, especialmente em jovens.
Outros componentes como o osso, a cápsula articular (tecidos que envolvem algumas articulações), a membrana sinovial (tecido que reveste a articulação), os tendões musculares e bolsas com líquido sinovial (bursas) também podem ser afetados.
Quando a causa é outra doença, como a de Paget, uma infeção, uma deformidade, uma ferida ou o uso excessivo da articulação passa a ser considerada uma artrose secundária. São especialmente vulneráveis os indivíduos que forçam as suas articulações de forma reiterada, como digitadores e trabalhadores de indústrias, especialmente aqueles com sobre-peso. Já praticar exercícios sem indícios de lesão não aumenta o risco de artroses.
Tratamentos para osteoartrose:
Os objetivos do tratamento são aliviar e, se possível, suprimir as dores, melhorar a capacidade funcional, isto é, aumentar a mobilidade das articulações atingidas e evitar a atrofia dos músculos relacionados com as referidas articulações e, finalmente, impedir o agravamento das lesões já existentes. A osteoartrose não se trata apenas com medicamentos e fisioterapia.
O empenhamento do doente é indispensável, e sem ele o plano terapêutico não tem êxito. Constituem medidas básicas do tratamento a educação do doente, o repouso relativo e o plano de exercícios.
Numa doença crônica por excelência, como é a osteoartrose, doente não educado medicamente, é doente que não vai, seguramente, seguir ao longo de toda a vida a estratégia terapêutica planificada do seu médico.
A osteoartrose não tem, hoje em dia, cura, e o doente deve sabê-lo, mas tem tratamento, que pode permitir ao indivíduo afetado por esta doença levar uma vida completamente normal na imensa maioria dos casos.
O médico deve enfatizar o carácter benigno da doença e o seu bom prognóstico na grande maioria dos casos. Esta desdramatização é muito importante, visto em muitos casos o principal problema do doente ser o medo de poder vir a ficar completamente incapacitado. Da educação do doente devem fazer parte o ensino das regras gerais de proteção do aparelho locomotor, e a correção das posturas incorretas.
O doente deve aprender a:
- Dormir em cama dura, preferencialmente em decúbito dorsal, isto é, de “barriga para o ar”, posição que propicia um repouso completo da coluna vertebral. Não permanecer durante muito tempo na mesma posição, sobretudo nas posições de pé ou sentado.
- As longas estadias nestas posições constituem uma sobrecarga para a coluna, em particular para a coluna lombar, as ancas e os joelhos.
- O pescoço deve andar em hiper-extensão e nunca flectido. Esta postura é particularmente importante para os doentes com cervicartrose (artrose da coluna cervical).
- Evitar pegar em objetos pesados, o que constitui uma grande sobrecarga para as articulações da coluna vertebral.
- Evitar as flexões da coluna vertebral. O doente, quando tiver de apanhar um objecto do solo, não deve flectir a coluna, mas sim dobrar os joelhos.
- O vestuário deve ser simples e prático, evitando as roupas apertadas, os fechos atrás das costas e os botões de pequenas dimensões. Os sapatos devem ter contrafortes resistentes e os saltos não devem ser altos. Os saltos altos aumentam a lordose lombar, originando dores ao nível deste segmento de coluna.
- Evitar tanto quanto possível os transportes trepidantes, como o autocarro e a maioria dos automóveis. Sempre que possível, andar de comboio, de eléctrico, e, em Lisboa e Porto, de metropolitano, mas não nas horas de ponta.
- Os estudantes e outros trabalhadores que passam longas horas a uma secretária devem evitar posturas incorretas. São muito importantes a altura das cadeiras e das secretárias, a fim de evitar que os doentes passem horas demasiado flectidos sobre as suas secretárias de trabalho.